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tinham um lustro brilhante, mas ainda assim opaco. Rosto vermelho nas bochechas mas
lívido na testa. Parecia uma espécie de maquilagem que uma mãe pode fazer na filha na
noite de Halloween. Ela estava explodindo de raiva. A coisa toda ofendera qualquer
morcego guinchante que passava por alma. Estava pronta para subir direta para o céu ou
mergulharem picada para o inferno.
- ótimo - disse eu quando as duas me olharam. - Bem, temos que manter a ordem aqui.
Tenho certeza de que vocês reconhecem isso. Sem ordem, o que é que fica? A selva? E
a melhor maneira de manter a ordem é resolver nossos problemas de uma maneira
civilizada.
Fúria - Stephen King
- Apoiado, apoiado! - exclamou Harmon Jackson.
Levantei-me, fui até o quadro-negro e peguei um pedaço de giz na borda. Desenhei um
grande círculo no chão de mosaico, talvez de 1,50in de diâmetro. Conservei também de
olho Ted fones enquanto fazia isso. Volteiem seguida à mesa e sentei-me.
Indiquei o círculo com um gesto.
- Por favor, meninas.
Grace adiantou-se rapidamente, bonitinha, um amorzinho. A tez dela era lisa e clara.
Irma permaneceu sentada, imóvel como uma pedra.
- Irma - chamei. - Ora, Irma. Você fez as acusações e sabe muito bem disso.
Irma parecia um pouco surpresa, como se a idéia de acusações houvesse aberto a
explosões uma nova cadeia de pensamentos em sua mente. Inclinou a cabeça, levantou-
se da cadeira com uma mão cobrindo pudicamente a boca, como se para abafar uma
risadinha pequenina, coquete. Percorreu em passos pequenos o corredor e entrou no
círculo, colocando-se tão longe de Grace quanto possível, olhos modestamente baixos,
mãos cruzadas na cintura. Parecia pronta para cantar Granada no Programa de Calouros.
Sem qualquer motivo explicável, pensei. O pai dela vende carros, não?
- Muito bem - continuei. - Agora, como foi insinuando na igreja, na escola e mesmo na
televisão, um único passo fora do círculo significa morte. Entendido?
Elas entenderam. Todos ali entenderam. Isso não é a mesma coisa que compreensão,
mas dava pró gasto. Quando a gente pára pra pensar, a idéia de compreensão tem um
gosto levemente arcaico. tal como o som de idiomas esquecidos ou um olhar a uma
câmera obscura vitoriana. Nós americanos somos muito mais competentes em
entendimento simples. Torna muito mais fácil ler as placas quando estamos entrando na
cidade pela via expressa a mais de 80km por hora. A fim de compreender, a boca mental
tem que abrir o suficiente para fazer os tendões rangerem. O entendimento, porém, pode
ser comprado em qualquer estante de livros em brochuras na América.
- Bem - prossegui -, eu gostaria aqui de um mínimo de violência física. Já tivemos
demais disso para pensar. Acho que suas bocas e mãos nuas serão suficientes, meninas.
Eu serei o árbitro. Concordam?
As duas inclinaram a cabeça.
Enfiei a mão no bolso traseiro da calça e tirei o meu lenço vermelho. Eu o comprara na
loja de nada-além-de de Ben Frank e, umas duas vezes, usara-o na escola, amarrado em
volta do pescoço, muito europeu, mas me cansara do efeito a passara a usá-lo como
limpador de catarro mesmo. Burguês até a medula, assim sou eu.
Fúria - Stephen King
- Quando deixar cair o lenço. podem começar. Primeiro, você, Grace, que parece ser a
acusada.
Grace inclinou vivamente a cabeça. Havia rosas em suas bochechas. Isso é o que minha
mãe sempre diz de quem tem uma tez afogueada.
- Pare com isso! - gritou Ted fones. - Você disse que não ia machucar ninguém, Charlie.
Agora, pare com isso! - Seus olhos brilhavam em desespero. - Simplesmente, pare com
isso!
Por nenhuma razão que eu pudesse entender, Don Lordi riu feito doido.
- Foi ela quem começou, Ted Jones - disse, esquentada, Sylvia Ragan. - Se uma etíope
de peito mole chamasse minha mãe de prostituta...
- Prostituta, prostituta suja - concordou pudicamente Irma.
- ... eu arrancaria os nojentos olhos dela!
- Você está doida! - mugiu Ted para ela, seu rosto cor de tijolo. - Nós poderíamos detê-
lo! Se a gente se juntasse, a gente poderia...
- Cale a boca, Ted - disse Dick Keene. - Tudo bem?
Ted olhou em volta, viu que nem tinha apoio nem simpatia, e calou-se, olhos sombrios e
cheios de ódio alucinado. Fiquei contente porque havia uma boa distância de corrida
entre a carteira dele e a da sra. Underwood. Se fosse obrigado, eu poderia dar um tiro no
pé dele.
- Prontas, meninas?
Grace Stanner sorriu um sorriso sadio, corajoso.
- Mais do que pronta.
Irma inclinou a cabeça. Moça grandalhona, estava nesse momento com as pernas
abertas e a cabeça ligeiramente abaixada. Os cabelos eram de uma cor de louro sujo,
arrumados em cachos redondos que pareciam rolos de papel higiênico.
Deixei cair o lenço vermelho. A coisa começava.
Grace pensou um pouco. Quase pude vê-Ia pensando até que ponto poderia ir,
perguntando-se a si mesma até onde queria ir. Naquele instante, amei-a. Não... amei as
duas.
- Você é uma puta gorda, desbocada - começou Grace, olhando Irma no olho. - Você
fede. É isso mesmo. Seu corpo fede. Você é um piolho.
- Ótimo - cumprimentei-a, quando ela acabou. - Dê-lhe uma bofetada.
Fúria - Stephen King
Grace levantou a mão e esbofeteou Irma num dos lados do rosto. A bofetada produziu
um som seco, como uma tábua batendo em outra. A suéter subiu acima da cintura da
saia quando ela ergueu o braço.
"Hummm!", disse baixinho Corky Herald.
Irma soltou um grunhido abafado. A cabeça saltou vivamente para trás, o rosto se
contraiu. Não parecia mais pudica. Na bochecha esquerda apareceu uma mancha
grande, vermelha, de febre.
Grace jogou a cabeça para trás, tomou uma respiração brusca, e preparou-se. Os cabelos
desciam-lhe pelos ombros, belos e perfeitos. Esperou.
- Irma, pela promotoria - disse eu. - Comece, Irma.
Irma respirava com dificuldade, olhos vidrados e ofendidos, a boca horrorizada. Nesse
momento ela não parecia a doce filhinha de ninguém.
Prostituta - disse finalmente, ao que parece resolvendo continuar com a palavra
vencedora. O lábio subiu, caiu, e subiu novamente. - Prostituta suja comedora de
meninos.
Inclinei a cabeça na direção dela.
Irma sorriu largamente. Ela era muito corpulenta. O braço dela, girando, parecia uma
parede. E desceu como um foguete na direção do rosto de Grace. O som foi de um
estalo seco.
- Uau! - gemeu alguém.
Grace, porém, não caiu. Todo um lado de seu rosto ficou vermelho, mas ela não caiu.
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